Dé la bienvenida a mi amigo y los nuevos amigos son este mi mundo

"A ALMA É ESCRAVA DA NATUREZA ERRANTE QUE A OCUPA..."
by me

...é engraçado a força que as coisas parecem ter...quando elas precisam acontecer!

terça-feira, 13 de julho de 2010

18 horas e 43 minutos

Aforismos em caixas
Títulos,
           tijolos,
                     embalagens...
Uma caixa cercada
                             deles
Uma mesa para
                             eles.
Todos compram,
                         comem
                                     e vendem
                                                      infortúnios
e abismos
                 em latas.
Uma caixa cheia
                         de 
                             tijolos
Uma cidade cercada
                              deles.
Todos são paredes,
                            caixas,
                                       relógios.
Eu presumo o fim
                            mas é
o começo
               Me despeço
                                 do fim
                                           mas é
o
                meio...
Relógios em
                   homens
                               Homens em relógios
                                                              Bomba-relógio
                               Bomba-humana
Cabe tudo no 
                    CAOS
                               menos eu...
                                                                             ...uma a menos
                                         
                                                       
...BOOM!!!


P.N

domingo, 9 de maio de 2010

Doll Parts- "Despinoquiando" por Caio Silveira Ramos


Recebi a mulher pelo correio, em várias partes separadas, e não reconheci aquele corpo. Eram pacotes de todas as formas, sem remetente. Primeiro veio uma perna, mas não era de madeira, plástico ou borracha. Era uma perna bonita, forte, bronzeada, bem torneada, de carnes rijas e ossos grandes. Mas era só um membro - eu andava desiludido por causa de um caso desfeito - e acabei jogando aquela perna na área de serviço.



No dia seguinte, quando fui colocar a roupa na máquina de lavar, vi que da perna tinha brotado um pé e um lado da nádega. Achei bonito, toquei, senti um friozinho na espinha, mas foi só. À noite, quando cheguei do serviço, encontrei mais um pacote na portaria do prédio: dentro, um seio firme, voltado para o alto, o mamilo rosado e atrevido. Mas na sala me deparei com duas pernas já formadas daquele pedaço de corpo abandonado pela manhã. Andavam tontas, sem jeito, aos trancos. Por fim, parecendo cansadas, buscaram o sofá. A nádega agora completa se sentou e as pernas se cruzaram impacientes, os pés se mexendo. Tentei chegar perto, olhei interessado, mas a frente não estava pronta, era apenas pele lisa, sem sexo. Me aproximei, as pernas se retraíram, depositei receoso o seio recebido na ponta oposta do sofá e fui me deitar. Que aqueles membros se entendessem.


De manhã, um belo corpo de mulher, sem braços e sem cabeça, dormia encolhido de frio no sofá. Fui até ele, cobri-o com uma manta de lã e saí na ponta dos pés para o trabalho.


Durante o dia fiquei ansioso, queria que o tempo passasse logo: que parte receberia? E à noite o pacote estava lá: era uma cabeça, com olhos fechados, a boca bem-feita, o pescoço delgado e os cabelos longos de mel e melado. Em casa, o corpo esperava, os braços nascidos, a mesa posta, a janta cheirosa. Sorri, quase pedi um abraço, mas me intimidei: apenas ofereci a cabeça recebida pelo correio. Ela pereceu envergonhada, saiu correndo com o presente nas mãos e se trancou do quarto de empregada. Pensei em bater na porta, saber se ela precisava de alguma coisa, mas achei melhor deixá-la à vontade, talvez se mirasse no espelho. Resolvi jantar, comida soberba. Depois tirei a mesa, lavei a louça, deixei um pratinho para ela sobre o fogão e fui de novo até o banheirinho, encostar o ouvido na porta. Nenhum barulho, nenhum soluço. Fui dormir.


No outro dia encontrei a mesa do desjejum arrumada, suco de laranja, café cheiroso, torrada quente com manteiga derretida, mamão cortado em cubos. Andei pela casa: sobre o fogão o prato não estava, virei a maçaneta do banheirinho, a porta trancada. Lá dentro, um suspiro, me desculpei, desculpe, desculpe, você precisa de alguma coisa? Silêncio. Eu não tinha fome, mas pensei que ela se ofenderia e acabei comendo um pouco de tudo. O café era perfeito. Ajeitei a mesa para ela, pensei em perguntar se queria alguma coisa da rua, mas me envergonhei. Saí.


No serviço não consegui me concentrar, inventei uma dor de cabeça e corri para casa. O porteiro do prédio me estendeu o pacote. Subi apressado, o coração chegando na frente, vendo a mesa pronta, o jantar cheiroso, ela trancada no banheirinho. Olhei o pacote do correio, não sabia se poderia abrir, não era para mim. Pois não era? Não era o meu nome que estava descrito como destinatário? Abri. E em minhas mãos se abriu o sexo, novo, resplandecente e nu. Levei-o até o rosto, me misturei aos pelos finos, toquei meus lábios nos dela, mas eram frios e secos. Recoloquei-os no pacote, jantei, repeti o ritual do dia anterior e sobre o fogão deixei um prato quente e seu presente ainda morto. Fui deitar, fechei os olhos procurando-a em mim. E acabei exausto.


De madrugada ela me acordou com um beijo. O rosto perfeito, o corpo criado, faminto, ansioso. Ficamos ali trancados, dias e dias, esquecidos. Às vezes um de nós ia para a cozinha, preparava um encanto, fazia o outro revigorar pra se esgotar de novo. O telefone tocando, nós dois rindo do mundo perdido lá fora, gulosos do sonho do tempo refeito lá dentro.


Um dia voltou pro quarto rindo, a comida está acabando, vou ter que comer seus olhos com sal. Percebi que era tempo de voltar para o trabalho, dei-lhe um beijo, prometi, vou comprar uns vestidos pra você passear. No escritório, a secretária e o estagiário estavam assustados, onde o senhor andava? Seus clientes estão nervosos.


Inventei desculpas, fiz ligações, dei um aumento para o estagiário que me cobriu no andamento dos processos e disse amanhã eu volto. Fui numa loja e lotei o carro de presentes: roupas, sapatos, perfumes, agradinhos. Entrei em casa, ela na frente da TV, fascinada pela novela, cheiro de queimado na cozinha. Desliguei o fogo, meu amor, meu amor, tome cuidado, você poderia ter se machucado. Mas ri. Ela riu também, pediu desculpas, e agora? Trouxe as compras para dentro da sala, fizemos comida chinesa congelada e depois ela desfilou nos vestidos novos.


Não sei qual é o seu nome, meu amor.


Elisa.


Como você sabe?


Só sei que é Elisa, assim como o seu é Ivan.


Ela pareceu aborrecida e correu pro banheirinho, seu antigo esconderijo. Dessa vez bati na porta, desculpa, desculpa, não pergunto mais. Ela abriu, estava nua de novo, o vestido jogado no chão, me chamou para dentro. No outro dia, acordamos felizes, vou trabalhar, mas volto logo, por que você não vai dar uma volta?


Vou.


Me arrependi. Disse: tome cuidado, não vá muito longe. E saí preocupado. Na hora do almoço voltei correndo, ela não estava. Sai pelo bairro vasculhando bancas de jornal, o balancinho da praça, as vitrines das lojas, nada. Ir para a polícia? Nome da sua esposa: Elisa. De quê? Não sei.


Voltei para casa, a TV ligada, o som alto, ela na cozinha preparando o almoço, oi, meu amor.


Onde você estava?


Fui ver o sol.


Comemos em silêncio, nos amamos em silêncio, fui para o trabalho à tarde, mas voltei dez minutos depois. Ela tinha saído. Sentei no sofá e esperei, três, quatro, sete e meia ela chega, oi, amor, você voltou mais cedo? Espera que eu já preparo sua comidinha.


Não reclamei, sentamos pra comer, conversamos, ela estava animada: tinha andado até o centro, pegara um táxi, fizera compras, me trouxe uma gravata, está aqui, tinha esquecido.


Naquela noite ela dormiu rápido, disse que estava cansada, vamos deixar para amanhã. Levantei de madrugada, vasculhei sua bolsa, cheirei seu vestido, não encontrei nada, me estiquei no sofá. Às nove acordei com o telefone, tinha perdido a hora, ela também:


Alô, a Susana está?


Não tem nenhuma Susana aqui.


Mas ela me deu esse número. Me chama ela.


Bati o telefone, fui até o quarto, ela acordou com o meu barulho, que horas são, amor?


Ligaram perguntando por uma tal de Susana.


Susana? Deve ter sido engano.


Deve ter sido.


Dei-lhe um beijo, saí sem o café. Do serviço liguei. Nada, ninguém. Voltei para casa. Vazia. Sentei no sofá, ela chegou as duas, ué, você não falou que vinha almoçar em casa...


Onde você andou?


Fui passear, querido. Fico tão sozinha.


Estava certa, pensei em arranjar uma ocupação para ela, curso de pintura, aula de computação, precisava conhecer gente, arrumar umas amigas, quem sabe gostaria de trabalhar?Mas eu tinha medo, ela ainda era ingênua, quase criança, as pessoas iriam rir, perguntar do seu passado, como assim chegou pelo correio? Na verdade nem tinha certeza se ela sabia ler.


Sei, claro. E também falo francês e um pouco de sueco. Mas não quero trabalhar ainda, prefiro conhecer a cidade, me dá dinheiro pra comprar um vestido que vi nos Jardins?


Não neguei, ela me deu beijo e perguntou o que eu queria almoçar.


Volta para o serviço ainda hoje?


Não. Quero ir com você ao cinema.




Ela sorriu, disse para eu tomar um banho, vou passar uma roupa para você sair bem bonito comigo. Liguei o chuveiro e escondido ouvi Elisa falando baixo no telefone. Não a surpreendi. Chorei no chuveiro, demorei, ouvi, vem, amor, a comida está esfriando, vamos tentar pegar a sessão das quatro e meia.




Não prestei atenção no filme, ela comeu pipoca, tomou refrigerante, interrompi: com quem você falou no telefone enquanto eu tomava banho?




Pelo visto você não tomava banho.




Não importa. Quem era?




Engano. Uma mulher perguntando por um tal de Paulo.




O filme continuou, acabou, voltamos para casa, não minta para mim, quem era no telefone?




Engano, já falei. Você está duvidando de mim?




E se trancou chorando no banheirinho. Bati, implorei, me perdoe, eu morro de ciúmes de você. Ela abriu, disse, vou tomar banho, estou triste. Tomou e foi dormir.


No dia seguinte bebi um café requentado na pia, saí pro trabalho, ela dormindo. Mas não fui, fiquei por ali, escondido. Às nove e meia ela saiu, linda no vestido novo. Segui. Ela se encontrou com um fulano, se beijaram na boca, andaram de mãos dadas num parque, tomaram sorvete. Ele passou a mão pelos seios dela, ela mordeu-lhe a língua. Se despediram, Elisa voltou para casa.






Demorei, andei perdido, à noite cheguei, a mesa posta, sorriso posto, oi, amor, demorou hoje.


Não falei nada, recusei seu beijo, ela me serviu, comi calado. Elisa comentando a novela. Ela me ofereceu sobremesa, rasguei sua roupa, violentei-a no chão da sala, enforquei Elisa com o fio do telefone. O interfone tocou, o porteiro me chamando, tem encomenda pro senhor, quer que eu leve?




Não, vou buscar.


Fui e voltei com o pacote, sem remetente. Abri.


Na sala, enquanto o corpo dela se desbotava no sofá, dentro da caixa pulsava um coração sangrento.


Mas pouco a pouco ele foi enfraquecendo, batendo mais lento, lento, suspirando, sussurrando.






Até que passou e morreu. Ali, na palma da minha mão.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Insanidade Solidária


Não é bom para o homem o cultivo de uma ambição solitária. A menos que haja outros a seu redor para habitá-lo a se regular por eles. Os seus pensamentos, desejos e esperanças serão meras extravagâncias, e ele fará de si a imagem, talvez a realidade, do homem insano. Lendo em outros peitos com uma percuciência quase sobrenatural, o admirador não percebe a desordem que lavrara no seu.


Pudesse o resultado de uma das nossas ações, ou de todas elas, ser posto relevo aos nossos olhos, alguns lhe chamariam destino e prosseguiriam, perpetrando-as, outros se deixariam arrebatar por suas próprias paixões, mas os retratos proféticos a ninguém desviariam de seu curso.


Tivera o homem tamanha consciência sobre o fim de suas atitudes, jamais ousaria manifestá-las, então jamais satisfaria seus desejos, e em prol de nenhuma causa denunciaria suas virtudes se não fosse a confirmação exata de que se tornaria plausível e bem sucedida sua intervenção. De fato, encontramo-nos concisos de nossos princípios efetivos, numa sociedade reverberada de julgamento e indecisão, onde a falta de ação explora-nos o cativeiro assolando-nos com deplorável indagação. A essa saliência nítida e perturbadora, solitário abismo de permanência nos incubem os demais, eis a inexecutável tolerância do descontentamento diante da recapitulação de títulos próprios, que em nada servem nem a si mesmos, nem aos demais, valores mercantis, contratuais...

O doente meio expansivo da contemporaneidade onde a insatisfação alheia gera as demais, e atos e fatos são transgressores de sua mórbida decadência!

Ser considerado louco hoje em dia, é um privilégio para poucos...A insanidade ainda é minha maior força!



Paty N.



DUBITO ERGO SUM




O PODER DO CONCEITO:do Übermensch nietzschianoao Superman americano
Gustavo Bernardo


Publicado originalmente nosCadernos de Letras da UFF, 1997.


Der Übermensch é um conceito central da obra de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX. The Superman é um personagem das histórias em quadrinhos, criado pelos estudantes norte-americanos Jerry Siegel e Joe Shuster, em 1938. Übermensch é usualmente traduzido como Superman, em inglês, e como Super-Homem, em português. Logo, podemos concluir que o Superman americano realiza o Übermensch de Nietzsche? Não. Não é bem isso que tentarei demonstrar. Também não tentarei demonstrar que o Superman seria a redução, a mediocrização do pensamento do filósofo alemão. Ambas as formulações se mostram tentadoras, mas levam ou ao equívoco de aproximar o valor de produções culturais tão díspares, no primeiro caso, ou ao equívoco de desvalorizar a priori o personagem em favor do conceito. Entretanto, não há como negar que os termos se confundem e vez ou outra se interpõem, tanto no campo dos media quanto no campo da filosofia stricto sensu.
Por que os termos se confundem e se interpõem? Por que der Übermensch continuaria sendo necessário? E por que the Superman também se fez necessário, ainda que por razões diversas? Estas são as minhas questões básicas.
Mas o leitor, talvez, não veja qualquer relação importante entre o conceito de Nietzsche e o personagem de Siegel e Shuster. A proximidade dos nomes não passaria de coincidência. O leitor chama a minha atenção para a tradução do termo Übermensch. “Mensch” é um termo neutro, em alemão, a indicar “ser humano”, enquanto “Mann” indicaria, aí sim, “homem”, por oposição a “mulher”. O Superman americano seria, na verdade, der Übermann. As traduções de Nietzsche para o inglês e o português apagam essa distinção importante, facilitando a confusão, que seria impertinente, com o herói norte-americano.
Magnus, Stewart e Mileur, no seu trabalho sobre “o caso Nietzsche”, evitam o termo superman exatamente “because the word ‘superman’ seems to us to have been preempted by Clark Kent in English”. A opção overman, por outro lado, além de não traduzir todas as possibilidades contidas na expressão alemã, compete, em desvantagem, com o largo uso de superman. Logo, eles preferem dizer Übermensch e Übermenschlichkeit (equivalente a “sobre-humanidade”, por analogia a übermenschlich, adjetivo referente a “sobre-humano”), explicando e trabalhando os termos sem traduzi-los diretamente.1
A argumentação do leitor, apoiada pelos estudiosos americanos, é consistente. Mas vou insistir na tese, defendendo que a “confusão” não seria casual, apontando para apropriações significativas do conceito de Nietzsche. Em história recente, publicada no Brasil no ano de 1993, o personagem conhecido como Super-Homem viaja no tempo, chegando na Alemanha em pleno domínio nazista.2 A reação inicial da senhora, provavelmente judia, acuada pelos nazis num beco, junto com sua pequena filha, ou neta, é de pavor, chamando-o, em alemão, justo, de Übermensch — “uma das criações profanas de Hitler”. A menina, entretanto, vê bondade no herói, reconhecendo que ele não usa o símbolo, isto é, a suástica no peito. O próprio Super-Homem, com seu topete de galã dos anos 40, tenta se comunicar com elas em alemão, destacando sua condição de norte-americano — como aliás o uniforme, com as cores da bandeira estadunidense, sempre lembra.
Apenas nesta imagem já podemos ver a dupla apropriação do termo cunhado por Nietzsche — pelos nazistas, e pelos quadrinistas. Os nazistas (em boa parte devido à irmã do filósofo, anti-semita convicta que, aproveitando os anos finais de loucura do irmão, modificara e “editara” seus textos para servirem à “causa”) apropriaram-se do termo para melhor forjarem o mito da superioridade ariana. Os norte-americanos, certamente por oposição conveniente — the Superman versus der Übermensch —, valorizariam sobremaneira a criação dos jovens estudantes: já em 1940 a revista do personagem alcançava a tiragem de 1.400.000 exemplares, gerando seriados radiofônicos, televisivos e cinematográficos — além dos muitos dólares.3
Na mesma época, certa personalidade histórica respondia pela alcunha de homem de aço, tal qual, desde o princípio, os quadrinhos também chamavam o seu personagem. Jossip Vissariônovitch Djugaschvili, conhecido como Stálin (“homem de aço”, em russo), dominava com mão mais do que forte a então União Soviética, esperança dos socialistas por décadas (socialistas que, mais tarde, tiveram de digerir, dolorosamente, o que o “homem de aço” fizera com as suas esperanças).4
Dentro deste clima de guerra, em que os homens de aço se multiplicam nos governos e nos media, retornemos ao Super-Homem.
Ele é o primeiro super-herói criado no século XX, combinando elementos da ficção científica nascente com atributos de heróis mitológicos, fundindo Hércules e Ícaro em figura única e bem-sucedida. Dezenas, e depois centenas de super-heróis o seguiriam pelo século adentro, numa overdose de poder imaginário sintomática da época. Naquele momento ele já representava, adequadamente, o vertiginoso aumento das possibilidades da humanidade, quer para criar quer para destruir, bem como comparecia para melhor compensar a vertiginosa diminuição, conseqüente, das possibilidades de cada indivíduo. O Superman tem poderes fantásticos, mas os esbanja lutando com vilões extravagantes, enquanto escapa de mulheres insistentes.5
Se a história do Super-Homem dos quadrinhos ilumina, de maneira transversa, a história do século xx, interessa notar como o seu poder aumenta desmesuradamente, com o tempo, adquirindo a capacidade de voar e a total invulnerabilidade, para, adiante, diminuir progressivamente (tanto quanto a crença do século nas próprias possibilidades).
Lex Luthor, seu inimigo predileto, descobriu o calcanhar do Aquiles moderno: a vulnerabilidade a meteoros advindos de seu planeta natal, ou seja, a pedras de kryptonita. Nos últimos anos, esta vulnerabilidade se estende, permitindo que ele se machuque cada vez mais, até surpreendentemente morrer, em “17 de novembro de 1992”, perante um monstro novo, com o nome de Doomsday — o dia do Juízo, da Condenação Final; o Apocalypse. A vulnerabilidade adquirida lhe empresta humanidade e caráter, facultando-lhe arriscar e perder a própria vida. Depois das edições especiais sobre a morte do Super-Homem, a editora lançou (como seria esperado) sua ressurreição.6
Em que sociedade se precisa tanto de “homens de aço”, à direita e à esquerda, defendendo, cada um a seu modo, a liberdade, os fracos, e os oprimidos? Talvez, “numa sociedade particularmente nivelada, onde as perturbações psicológicas, as frustrações, os complexos de inferioridade estão na ordem do dia; numa sociedade industrial onde o homem se torna número no âmbito de uma organização que decide por ele, onde a força individual, se não exercitada na atividade esportiva permanece humilhada diante da força da máquina que age pelo homem e determina os movimentos mesmos do homem — numa sociedade de tal tipo, o herói positivo deve encarnar, além de todo limite pensável, as exigências de poder que o cidadão comum nutre e não pode satisfazer”. 7
A nossa é a sociedade em que o poder do ser humano, enquanto espécie, cresce em razão inversa ao poder do ser humano, enquanto indivíduo. Podemos exterminar-nos várias vezes, e este é um dado novo na História; mas narrativas como a de Robinson Crusoé não são mais sequer verossímeis. O indivíduo que hoje se perdesse sozinho numa ilha absolutamente isolada não saberia mais levantar a sua casa, fazer a sua roupa, caçar a sua alimentação. Na verdade, antes mesmo de morrer de fome, morreria de angústia e de desespero, por não se poder reconhecer sem as muletas, inclusive discursivas, com que sobrevive.
Esse tempo precisa, sim, do Superman; mas semelhante herói superdotado não escapa a seu tempo, nem mesmo voando à velocidade da luz: “usa das suas vertiginosas possibilidades operativas para realizar um ideal de absoluta passividade, renunciando a todo projeto que não tenha sido previamente homologado pelos cadastros do bom senso oficial, tornando-se o exemplo de uma proba consciência ética desprovida de toda dimensão política: o Superman jamais estacionará seu carro em local proibido, e nunca fará uma revolução”. 8
O Super-Homem faz de conta que busca valores mais elevados, como a salvação da Terra, a punição de criminosos, o reparo a danos patrimoniais e morais — mas o meio torna-se fim em si. O “mal” acaba sendo um pretexto para o mesmo mal se fingir de “bem”, se o que se extravasa é a vontade de poder mais que os demais — o que já o diferenciaria do Übermensch, na medida em que a vontade de poder nietzschiana não toma os outros por medida —, é a sede de sangue, a identificação com o mais forte, com o mais esperto — com o vencedor. Como nos filmes de faroeste, o mocinho “é uma contradição a cavalo: defende os oprimidos como se fosse democrata, e o faz à força, reunindo em si todos os poderes”.9
Isso significa que o Super-Homem “de capinha” não será o Übermensch nietzschiano (a menina do primeiro quadrinho estava certa); mas também significa que um acaba por “falar” do outro, que o outro acaba por vestir, às vezes, a capa vermelha do “um”. Umberto Eco se pergunta se os homens de hoje estarão “inexoravelmente condenados a tornar-se ‘supermen’, e, por conseguinte, subdotados, ou poderão individuar neste mundo as linhas de força para um novo e civil colóquio? Será este mundo só para o Übermensch, ou pode ser também um mundo para o homem?” 10
Quando temos de voltar a Nietzsche. O texto em que o filósofo mais falou do Übermensch é também um dos seus mais conhecidos: Also sprach Zarathustra. Zaratustra, na verdade, existiu: foi um profeta iraniano, vivendo no século vii ac, que teria formulado os valores posteriormente desenvolvidos pela religião de Mani, exatamente, o maniqueísmo. Zaratustra é então “aquele que instalou o que Nietzsche considera como uma ficção ilusória. É sua tarefa consertar os estragos: Zaratustra é um assassino que volta para o local de seu crime. Assim, ele volta para retificar sua última anunciação, anular o dualismo metafísico”.11
Zaratustra queria ensinar, ao povo reunido para ver o funâmbulo, o super-homem, se o homem é, justo, “algo que deve ser superado”. O homem mesmo nada mais seria do que uma corda, “estendida entre o animal e o super-homem — uma corda sobre o abismo”. O homem se poderia admitir grande, sim, desde que se reconhecesse ponte, e não meta.12
Nietzsche, o filósofo da hybris moderna, desejava, paradoxalmente, o limite: o limite no que pode ser pensado.É isto que significaria a verdade enquanto “desejo de verdade”: que tudo se transforme no que pode ser humanamente pensado, visto, sentido. Que toda verdade se reconheça desejo, logo, se assuma responsável pelo que formule.
Porque, nos dias presentes, boa parte dos indivíduos representativos teria sido alçada a patamares de glória e de visibilidade para melhor esconder, pelo barulho e pela luminosidade dos fogos discursivos de artifício, a alienação do gênero humano. Faz sentido a advertência de Horkheimer: “Os chamados ‘grandes indivíduos’ dos nossos dias, os ídolos das massas, não são indivíduos genuínos, são meras criações de seus agentes publicitários, ampliações de suas fotografias, funções do processo social”.13
A humanidade se deixa entregue a si mesma, morto Deus e feridos, de morte, os valores que em volta Dele gravitavam. Afirma-se sua solidão ontológica, no plano do ser, e seu isolamento axiológico, no plano do valor.14
É neste momento que o super-herói dos quadrinhos se insinua como paradigma: sua força vale, tautologicamente, para demonstrar o valor da própria força e demais variantes, como o sucesso e a vitória. Ou: “numa era em que todo mundo se torna ninguém, para que o ninguém se veja como alguém ele precisa projetar-se em um Super-alguém, cujos reflexos ele colhe como se fossem uma chuva de ouro: identifica-se com o que ele não é, justamente porque não é”.15 Quanto mais o sujeito é objeto (sujeitado...), tanto mais precisa fazer de conta que controla a sua vida; sentado diante do videogame, finge-se construindo, com as próprias mãos, no punho do joystick, um destino de luta e de aventura — destino este que, contudo, já se encontrava previamente programado.
Dentro desse quadro, surgem as críticas ao conceito, por parte, entre outros, de Bertrand Russell. Russell, na sua História da filosofia ocidental, diz que as concepções morais e políticas de Nietzsche levam para uma organização de tipo fascista e daí a um Estado policial, onde os heróis se encontrariam em campos de concentração. Em semelhante comunidade, “a fé e a honra são minadas pela delação, e a pressuposta aristocracia de super-homens se degenera num bando de trêmulos poltrões”. Observa que a ânsia de poder, com que o filósofo alemão adornara o seu Übermensch, é em si mesma um produto do medo, e não da tal “vontade de potência” . É porque temeria os seus vizinhos que Nietzsche teria posto entre eles tanta distância e diferença, idolatrando tiranos do passado enquanto prepararia a ascensão de tiranos em futuro próximo. Russell entende que, “em parte como resultado de seu ensinamento, o mundo real se tornou muito semelhante ao seu pesadelo, mas isto não o torna, de modo algum, menos horrível.”16
Suas críticas não são de todo impertinentes. Assim como o pensamento de Kant permitiu deriva positivista, o pensamento de Nietzsche terá permitido deriva fascista que pode ser estudada. Mas, na verdade, o filósofo não se preocupara em construir uma obra unitária, que brilhasse pela coerência, se toda a sua reflexão combate a lógica tradicional do signo, calcada na concepção aristotélica da verdade como adequação estrita à realidade, que por analogia exige adequação estrita do argumento a uma premissa básica. As críticas, em relação a um pensamento como o de Nietzsche, podem pecar por atribuir coerência, negativa, à obra que como tal não se pretendia. Ao mesmo tempo, tendem a ler de modo unívoco texto desde o princípio equívoco, ambíguo, isto é, um texto filosófico muito próximo de um trabalho literário. Mesmo em seu orgulho aparentemente desmesurado, quiçá adolescente (o que pode ser visto tanto como defeito quanto como qualidade), flagrante em Ecce homo (que, por sua vez, assim como Zarathustra, também é um exercício radical de paródia, de ironia e de auto-ironia), inúmeros fragmentos da sua obra sempre deixaram muito claro que todo filósofo “ocupa um ponto de vista, uma perspectiva: quando pensa, interpreta, é antes de mais nada um ser vivo interpretando a vida, e nunca passa de um porta-voz da eterna inspiração da vida por ela mesma, interpretação continuada por outros meios [..]; de onde a lembrança de uma modéstia necessária”.17
O que tais críticas usualmente não discutem é a ligação, estreita, do conceito de Übermensch com a concepção do eterno retorno. A ética de Nietzsche modifica-se completamente, se levamos em conta esta ligação. Qual é a principal razão conceitual que inviabiliza confundir o Übermensch com o caminho de Clark Kent em direção à cabine telefônica mais próxima? A aproximação que se faz, principalmente em Assim falou Zaratustra, entre o conceito de eterno retorno e aquele Übermensch.
Pela concepção do eterno retorno, deve-se viver cada instante sabendo que é um retorno e sabendo que retornará, isto é, deve-se afirmar cada instante, abandonando a posição ressentida e reativa de negar os instantes que não nos favorecem.
“Foi assim? Então assim eu o quis e assim eu o quero!” — eis a mais do que exigente injunção do eterno retorno, que também se pode formular como: “torne-se o que você é”.18 Logo, o Superman não pode ser o Übermensch. Porque há Clark Kent, seu alter-ego medroso; porque ele mesmo, voando mais rápido do que uma bala, representa a negação dos poderes que temos e do ser humano que somos. Representando a negação dos poderes que temos e do ser humano que somos, aponta como mais uma imagem das vidas “editadas” que levamos, optando por construir heróis e gestos espetaculares na sociedade do espetáculo, no lugar de construir atitudes cotidianas — de tornar-nos o que de fato seríamos.
Nesse passo, cabe a “bronca” de Wilhelm Reich em cima do Zé-ninguém, indivíduo alienado que, apesar de tudo o que não é, ainda acreditaria cegamente no Império da Individualidade, assim confundindo Über, Unter e Super: “Foi-te oferecida a escolha entre a exigência de superação do Übermensch de Nietzsche e a degradação do Untermensch em Hitler. Berrando “Viva”, escolheste o Untermensch”19 , isto é, o infra-homem nazista.
O infra-homem é aquele que tem remorsos, que pede desculpas a todo mundo e a si próprio. E remorsos seriam obscenos porque implicam tentativa racionalizante, pouco importa se falha e falida, de negar-se como aquele que teria agido assim ou assado. A frase-emblema do infra-homem bem poderia ser: “se eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente, ah, não faria aquilo que fiz”. O arrependido tenta desobrigar-se de sua responsabilidade não só perante os demais, mas, principalmente, perante a si mesmo, uma vez que procura negar ser aquele que foi (negação, de resto, absurda, porque impossível). Sustenta-se na possibilidade de poder voltar atrás e desfazer não só o que fez e disse, como ainda todas as conseqüências (quando essa possibilidade, simplesmente, não há20). Elide os fenômenos da sua história particular, tentando esgarçar e desmontar as relações em nome de um valor superior (aquele no qual pensa só-depois) que, todavia, não existe. O que há é irresponsabilização, se as conseqüências do que fizemos nos alcançam de qualquer modo, indiferentes a que tenhamos “melhorado” nesse meio-tempo, indiferentes às nossas manifestações mais ou menos compungidas de arrependimento.21
Se o fizemos, se o dissemos, é porque o quisemos, é porque foi de algum modo preciso, necessário; se o fizemos, se o dissemos, é porque assim mesmo nos constituímos o que agora somos, é porque de algum modo valeu a pena; se o fizemos, se o dissemos, logo, devemos desejar fazer e dizer novamente, celebrando a vontade e o desejo como a essência do que somos. Na verdade, só afirmando o tempo passado se pode afirmar o passar do tempo. Por isso, o eterno retorno compõe-se dentro de uma doutrina ética que, justamente, celebra a vida:
Digamos que “me tenha” morrido o meu avô, ao qual eu seria muito ligado (talvez eu carregasse o seu nome, por exemplo), num momento particularmente importante da adolescência. Tudo o mais que eu haja vivido só faz sentido, só pode fazer sentido, a partir deste acontecimento. Pode ter sido doloroso, certamente foi doloroso, mas, inclusive por isto mesmo, o acontecimento me deu a vida que eu tenho — o acontecimento da morte do meu avô terá sido, em última análise, vida. É absurdo lamentá-lo, é absurdo pretender que a vida foi injusta comigo; a vida me “fez”, como sempre, aliás, vida — para diante, irreversivelmente.
Foi assim?; assim eu o quis. Era isso a vida?; pois muito bem, outra vez!
Digamos, permanecendo neste terreno hipotético, que eu haja mantido uma relação, um casamento, particularmente conflitivo, infeliz. Depois de certo tempo, a relação acabou. Perdi tempo? Se eu pudesse voltar atrás, fugiria daquela pessoa? Não. Primeiro, porque não posso voltar atrás. Segundo, porque não poderia fugir daquela pessoa, se ela terá sido necessária, melhor dizendo, terá sido absolutamente fundamental para constituir-me na pessoa que eu sou agora. Não, eu não perdi tempo; ganhei o tempo que eu tenho hoje.
Foi assim?; assim eu o quis. Era isso a vida?; pois muito bem, outra vez!
É o que brada Zaratustra, com tranqüilidade: “Todo o Foi assim é um fragmento, um enigma e um horrendo acaso — até que a vontade criadora diga a seu propósito: Mas assim eu o quis!” 22
Para encerrar, então, é preciso retornar às perguntas do começo. Por que der Übermensch continuaria sendo necessário? E por que the Superman também se fez necessário, ainda que por razões diversas?
O Übermensch continua sendo necessário, e portanto desejado, pela crítica permanente e dinâmica que propõe, para a espécie humana, sobre ela mesma. Associado à noção do eterno retorno, formula uma exigência moral da maior importância para os tempos que multiplicaram tantos arrependidos e saciados (ao mesmo tempo). O Superman se fez necessário, mais tarde, quer enquanto atualização de mitos arcaicos, nomeando pelo avesso a fraqueza que nos prende ao chão, quer enquanto possibilidade paródica, irônica, daqueles mitos.
Ainda que “super-homem” não seja a tradução literal correta para Übermensch, é uma das traduções, ou traições, que a nossa época deu para o conceito nietzschiano. Não nos cabe fingir que isto não aconteceu, torcendo o nariz para o gibi. A separação acadêmica, entre os universos da filosofia e da narrativa popular, em outras situações pertinente, mostra-se, no caso, inadequada. Mesmo que esta narrativa não se transforme em problema para si própria, nada impede que ela se transforme em problema para nós.


terça-feira, 6 de abril de 2010

UMA POESIA NOVA - FERRÉZ


Quando lavo o rosto pela manhã é como se tivesse tirado os pesadelos da noite mal dormida. Como um pão e empurro com o café pelo estômago abaixo com raiva. Ao pegar o prato do almoço, ligo a TV e não estou mais sozinho. Depois vem o computador e vejo o mundo inteiro. Ao desligar, a mesa e tudo em cima se torna inútil, ineficaz. Pego a folha branca com vontade de preenchê-la. Penso um pouco e sei que verdades e mentiras são questões de ponto de vista. As palavras não são dignas de serem colocadas uma após a outra. O café é amargo como o que penso da vida. E mais uma vez não sei o que vivo e não sei o que penso. A vida é externa, a guerra já começa em nós por dentro. A paz é uma palavra muito curta para fazer efeito. A sensação de ter asas não me agrada mais, quero rastejar. Nas coisas que comprei hoje não me apoio mais. Olho em volta e as sensações estão mortas, vivo é o meu querer. Toda vez que chegamos no topo olhamos para baixo. Não, não é por causa da vitória conquistada, somos o começo da caminhada. Quando deixo minha mente vazia, ela não se apóia em barreiras. Os livros bem pensados são prostitutas bem pagas pela vaidade. A diferença dos medíocres, é que eles sabem capitalizar no caos. Deus me acordou cedo hoje, e me disse para calar a boca. Como sempre no mundo, a teimosia gera o bom senso. Tantas praias, tantos por do sol, tanta alegria, e limitamos o que são tantos. A poesia poderia ser uma solução para a insanidade. Mas o egoísmo do homem deixa a alma em segundo plano. O estômago dói, e os dedos tocam as teclas rapidamente. Tudo para dar sentido numa coisa chamada vida. Entre os dentes e o resto, a boca toca a mão direita e não sente nada. Entre sons e uma leve chuva, a coisa mais sem sentido é olhar a verdade. Embora quisesse parar, agora sei que não se para o sangue. E os dedos continuam a se movimentar, não para o prazer, e sim parar de sofrer. Deixarei tudo aqui nesse papel. E o quebra cabeça estará perdido quando não registrar as respostas. Nada de mais, um retorno ao grande nada. Frases que nos acompanham por toda uma caminhada. E no final vou por um título nada criativo. E ao parar vou voltar a me iludir. Vivendo.
(vale a pena conferir também o mais recente filme do Sérgio Bianchi "Os Inquilinos", onde Cássia Kiss declama esse mesmo poema do Ferréz)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Entendeu?


- [...] Esta palavra, “mal-entendido”, não lhe parece genial? Tudo teve início com um mal-entendido, num encadeamento que se perpetua infinitamente. Pode-se acrescentar uma dose de má-fé, mas não costuma ser necessário. Num caso, a mulher dá ouvidos à serpente, com as já conhecidas conseqüências desse ato; em outro, uma caravela acaba atracando em alguma costa desconhecida, onde uma gente pintada se esconde nos arbustos; em outro, ainda, um certo alguém motorizado acaba indo parar no bairro errado, e jamais voltará a ser a mesma pessoa. Sabe, o que mais me agrada na verdade é o título. Nesse sentido, a história, de fato, não tem fim. O que o senhor acha que os escritores pensam a respeito dos mal-entendidos? Será que fazem isso de propósito, para ter sobre o que escrever na próxima vez? Para ser sincera, não conheço nenhum livro cujo tema não seja, no final das contas, um mal-entendido. Hamlet, Madame Bovary, o tal Marcel, que não sabia que era amado por Gilberte, Macbeth, que acredita em Iago… se você pára para pensar… [...] Será que o senhor mesmo já parou para pensar no inventor do Paraíso, um lugar onde não ocorrem mal-entendidos? O tédio incomensurável que deve reinar lá só pode ser entendido como uma punição. Para inventar algo assim, só mesmo um mau escritor…


Do maravilhoso livro Paraíso perdido, de Cees Nooteboom

TIME AWAY

http://vimeo.com/10560007


Queridos depois de muito me ausentar desse Blog, resolvi dar uma atualizada aqui, até porque essas páginas já estavam bem sem motivo algum...rs.
Bom, recebi esse vídeo de um amigo e senti a necessidade de compartilhá-lo. É de uma campanha dessa linha de jóias BJORG e achei a história, fotografia, ângulo/sequencia, luz, movimentação/câmera, trilha...inspirador! Cinema puro!